A pandemia da Covid-19 instituiu o home office em, pelo menos, 46% das empresas que atuam no Brasil, de acordo com estudo da Fundação Instituto de Administração (FIA). No final de 2021, com o arrefecimento da circulação do vírus, prevaleceu o formato híbrido.
Trabalhar em casa, no entanto, é lidar com a interferência do ruído interno somado ao que vem da rua. O engenheiro Alexandre Sresnewsky, titular do escritório de consultoria em acústica que leva seu nome, assegura que é possível proteger o ambiente a ponto de torná-lo tão silencioso quanto estúdios de gravação.
O segredo está na instalação de soluções que asseguram a máxima absorção sonora, além de elementos que fazem o isolamento acústico.
Portas e janelas acústicas
Tudo começa pelas portas acústicas maciças, pesadas e dotadas de gaxetas e de escovas (na parte inferior) ou de dispositivo alçante (desce e fecha). “É um produto caro. Mas há soluções intermediárias, que protegem o vão entre a porta e o piso com um tapete ou cordão. Quanto ao contorno, algumas empresas já incorporaram as gaxetas vedantes ao batente de portas convencionais”, indica.
Elemento sempre lembrado, as janelas acústicas devem estar sempre fechadas para atingirem o máximo desempenho. Porém, a pandemia ensinou a importância de promover a ventilação dos ambientes. “As esquadrias acústicas precisam evoluir para alcançar um sistema de ventilação atenuadora de ruído”, alerta Sresnewsky, que também sugere implantar splits com renovação de ar já incorporado.
Ele se refere, nos casos mais simples, à chicana acústica – moldura superior sinuosa forrada com lã de PET ou mineral –, acoplada a qualquer um dos lados da janela. “Não é uma janela com aberturas do tipo bandeiras, mas um caminho para a circulação do ar, resultante de cálculos de proporções.
Desenvolvi para a escola Beacon, em São Paulo, uma chicana com cerca de 40 cm, inserida numa caixa instalada na parte superior da janela”, conta, reforçando que a solução compatibiliza ventilação e acústica.
Revestimentos de teto e paredes
Nos apartamentos, muitos profissionais optaram por trabalhar na varada envidraçada, ambiente muito barulhento, pois é onde recebe e reverbera todo o impacto que vem da rua. “A norma ISO 140 fala do som que sobe do trânsito da rua, bate no forro de gesso do terraço e invade o apartamento. A sacada, com paredes e teto lisos, sem qualquer elemento de absorção acústica, atua como caixa de ressonância”, afirma.
Se o teto receber revestimento acústico perfurado, com índice de absorção acima de NRC 0,85 (fração que varia de 0 a 1), o recinto se torna viável para trabalhar. O consultor adotou o material em sua varanda, transformada em escritório, com excelente resultado acústico. “Dos dormitórios à sala, todos os ambientes podem receber o forro acústico, obtendo redução de ruído de cerca de 6 dB – o que é muito”, comenta.
Exemplos disso são os painéis da linha Flexwood, do Grupo Isar, constituídos por perfis de madeira com cerca de 4 mil furos/m² e colados a um tecido. A perfuração cumpre o papel de absorver e impedir o retorno do ruído ao ambiente. Podem ser instalados no forro e, também, em paredes. Outras soluções são as espumas melamínicas Flexacustic, de alto poder de absorção acústica, na forma de nuvens e baffles (aletas). “São soluções prontas, já existentes”, diz.
Além de adotar esse “combo” de soluções, o home office deve agregar cortinas, tapetes, carpetes, móveis de madeira e sofás. As paredes podem receber revestimento em tecido sobre lã de vidro da linha Flextex Sonacustic. Elementos decorativos, como quadros pintados à óleo no linho (tendo na face anterior lã de PET ou mineral), também colaboraram para a absorção sonora.
O resultado com todas as superfícies tratadas é uma redução de cerca de 35 dB, ou seja, se o ruído externo é de 70 dB, internamente cairá pela metade – valor próximo ao ideal, de acordo a norma NC, que é de 30 dB. “É o conforto acústico próximo de estúdio”, ensina Alexandre Sresnewsky.
A utilização de fones/microfones Noise Canceling também ajuda na privacidade das videoconferências ou calls, atenuando ruídos próximos do operador, tal como se tem em aeronaves. “Mas sempre levando em conta a eliminação de reverberações do ambiente que podem se sobrepor a voz original, reduzindo a inteligibilidade”, observa.
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